quarta-feira, 20 de maio de 2015

Pânico

Estou em pânico! Sim, pânico é a palavra certa, afinal, meus pensamentos, no momento, estão tão agitados que nenhum consegue uma estrutura sólida o suficiente para manter o mínimo de coerência, se é que isso faz algum sentido. É como se, de repente, meu corpo estivesse cheio de energia, mas as únicas atividades, fora o suicídio, que imagino fazendo é: correr sem parar, o máximo que puder, e gritar a plenos pulmões, até que minhas lágrimas, que estão presas em meus olhos, com vergonha de se mostrarem, lavem meu rosto, de forma que a água da pia não consegue. Estou agitado, frenético, mas me sinto mal, depressivo, culpado por, simplesmente, existir. Acho que essa é a melhor síntese do que sento: “Culpado por, simplesmente, existir.". Me sinto culpado o tempo inteiro. Por não ser inteligente o suficiente, por não rir o suficiente, por não ser suficiente para mim mesmo. Será o café ou realidade batendo em minha porta, fazendo com que eu perceba o quão patético burro eu sou?


Espero que seja o café, apesar de suspeitar, fortemente, da segunda opção.  Eu sou um verdadeiro desastre como pessoa, reconhecido por minhas duas mães, apesar delas não admitirem na minha cara. É quase possível ouvir o pensamento das pessoas a meu respeito: Tolo, ingênuo, criança, fracasso, burro. Minha vida inteira fui comparado com outras pessoas e sempre fui o inferior, o vencido. Sempre tive que melhorar. Nunca parecia ser o bastante, por que, de fato, nunca era. Eu não queria ser eu mesmo, queria ser outras pessoas, até que comecei a imitá-las. Imitava o jeito que falavam, o gestos, até mesmo a linguagem, mas não conseguia ser essa pessoa, não conseguia me tornar o que me era cobrado. Agora que, finalmente, chegou o momento de mostrar a todos o quão errado estavam, percebo que cheguei à mesma conclusão. Sou inferior mesmo, só fui burro o suficiente em demorar a perceber a verdade que se estendia diante dos meus olhos. 

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Preto e branco

É interessante notar que eu tenho uma característica peculiar, que não sei se é partilhada, de forma muito comum, por outras pessoas: Escutar mais do que falar. Conheço inúmeras pessoas que falam tanto que a simples possibilidade de resposta do outro lado é uma ofensa. Acho isso "normal" (dentro desse nosso padrão torto de civilização). Isso me permite muitas reflexões, ainda que eu não consiga explicitá-las a outras pessoas, ao menos escuto opiniões distintas. Toda essa historinha pra contar apenas uma frase que me foi repetida, por pessoas bastante distintas, durante um tempo relativamente longo dos meus 23 anos de idade: "A vida não é um mar de rosas". O mais interessante é que, apesar de todo mundo avisar, só percebi esse fato quando a cinza e tenebrosa realidade começou a estuprar minha sanidade.
A vida é feita em preto e branco, não tem propósito algum e no final todos acabam mortos, de um jeito ou de outro. Talvez possa parecer meio cruel dizer que a vida não possui significado, afinal, séculos e mais séculos foram "gastos" para a formulação de um significado que mostrasse o significado da vida perante o universo, seja de fonte religiosa ou filosófica (ou a intersecção entre os dois). Não que eu seja um enunciador da verdade, sou apenas um marmanjo depressivo, mas não consigo ver qualquer motivo para valorizar a vida. Ao contrário do que muitos dizem, e ouvi durante muito tempo, a vida não é nada de especial. A vida não passa de um grão de areia em um grande deserto. Já consigo imaginar o leitor pensando: “Mas juntos os grãos de areia formam uma unidade colossal”. Formam? Se formos comparar com a imensidão do universo, a vida, mesmo em termos agregados, é insignificante. Nós nascemos, vivemos e morremos assim como qualquer inseto/réptil/flor/vegetal, etc. “A vida é curta”, mas não o suficiente para morrermos sem esperar mais dela. Tenho inveja das borboletas, que, depois de sua transformação, não tem tempo para preocupar-se com a vida, pois logo morrem.
“Mortos não contam histórias”, acho que concordo com essa frase. Não acredito que exista vida depois da morte  ou que irei a um lugar melhor. Acredito que a vida seja finita, não há nada depois. Então, pra resumir, a vida não tem propósito e todos os seres vivos terminam mortos. “Devemos encarar nossos medos de frente.” Fora o pleonasmo de “encarar de frente”, esse ditado popular pode ser aplicado nessa situação também. Devemos encarar a morte de frente, certo? Por que adiar o inevitável? Afinal, “por que deixar para depois o que pode ser feito antes?”.

Pode parecer uma linha de pensamento fraca quando usamos as definições de “utilidade” para explicar o sentido da vida. No caso, se a vida é limitada pelo tempo, o mais racional é que se viva o máximo possível para aumentar a satisfação (utilidade). Nessa linha de pensamento, interromper a vida, é interromper a possibilidade de satisfação futura, que faz sentido. Entretanto, seria muito difícil de imaginar que existam pessoas que não sentem satisfação na própria vida? Digo mais, será difícil pensar que existam pessoas que, ao invés de somar satisfações, somam insatisfações e ansiedade que, na verdade, crescem com o tempo, ao invés de diminuir? No caso dessas pessoas, a vida é uma desutilidade, uma insatisfação. “A vida não é um mar de rosas”, até porque apenas se tornam mar quando se acumulam no chão (mortas).