Estou em pânico! Sim, pânico é a palavra certa, afinal, meus
pensamentos, no momento, estão tão agitados que nenhum consegue uma estrutura
sólida o suficiente para manter o mínimo de coerência, se é que isso faz algum
sentido. É como se, de repente, meu corpo estivesse cheio de energia, mas as
únicas atividades, fora o suicídio, que imagino fazendo é: correr sem parar, o
máximo que puder, e gritar a plenos pulmões, até que minhas lágrimas, que estão
presas em meus olhos, com vergonha de se mostrarem, lavem meu rosto, de forma
que a água da pia não consegue. Estou agitado, frenético, mas me sinto mal,
depressivo, culpado por, simplesmente, existir. Acho que essa é a melhor
síntese do que sento: “Culpado por, simplesmente, existir.". Me sinto
culpado o tempo inteiro. Por não ser inteligente o suficiente, por não rir o
suficiente, por não ser suficiente para mim mesmo. Será o café ou realidade
batendo em minha porta, fazendo com que eu perceba o quão patético burro eu
sou?
Espero que seja o café, apesar de suspeitar, fortemente, da
segunda opção. Eu sou um verdadeiro
desastre como pessoa, reconhecido por minhas duas mães, apesar delas não
admitirem na minha cara. É quase possível ouvir o pensamento das pessoas a meu
respeito: Tolo, ingênuo, criança, fracasso, burro. Minha vida inteira fui
comparado com outras pessoas e sempre fui o inferior, o vencido. Sempre tive
que melhorar. Nunca parecia ser o bastante, por que, de fato, nunca era. Eu não
queria ser eu mesmo, queria ser outras pessoas, até que comecei a imitá-las.
Imitava o jeito que falavam, o gestos, até mesmo a linguagem, mas não conseguia
ser essa pessoa, não conseguia me tornar o que me era cobrado. Agora que,
finalmente, chegou o momento de mostrar a todos o quão errado estavam, percebo
que cheguei à mesma conclusão. Sou inferior mesmo, só fui burro o suficiente em
demorar a perceber a verdade que se estendia diante dos meus olhos.