É interessante notar que eu tenho uma
característica peculiar, que não sei se é partilhada, de forma muito comum, por
outras pessoas: Escutar mais do que falar. Conheço inúmeras pessoas que falam
tanto que a simples possibilidade de resposta do outro lado é uma ofensa. Acho
isso "normal" (dentro desse nosso padrão torto de civilização). Isso
me permite muitas reflexões, ainda que eu não consiga explicitá-las a outras
pessoas, ao menos escuto opiniões distintas. Toda essa historinha pra contar apenas
uma frase que me foi repetida, por pessoas bastante distintas, durante um tempo
relativamente longo dos meus 23 anos de idade: "A vida não é um mar de
rosas". O mais interessante é que, apesar de todo mundo avisar, só percebi
esse fato quando a cinza e tenebrosa realidade começou a estuprar minha
sanidade.
A vida é feita em preto e branco, não tem
propósito algum e no final todos acabam mortos, de um jeito ou de outro. Talvez
possa parecer meio cruel dizer que a vida não possui significado, afinal,
séculos e mais séculos foram "gastos" para a formulação de um
significado que mostrasse o significado da vida perante o universo, seja de
fonte religiosa ou filosófica (ou a intersecção entre os dois). Não que
eu seja um enunciador da verdade, sou apenas um marmanjo depressivo, mas não
consigo ver qualquer motivo para valorizar a vida. Ao contrário do que muitos
dizem, e ouvi durante muito tempo, a vida não é nada de especial. A vida não
passa de um grão de areia em um grande deserto. Já consigo imaginar o leitor
pensando: “Mas juntos os grãos de areia formam uma unidade colossal”. Formam?
Se formos comparar com a imensidão do universo, a vida, mesmo em termos
agregados, é insignificante. Nós nascemos, vivemos e morremos assim como
qualquer inseto/réptil/flor/vegetal, etc. “A vida é curta”, mas não o
suficiente para morrermos sem esperar mais dela. Tenho inveja das borboletas,
que, depois de sua transformação, não tem tempo para preocupar-se com a vida,
pois logo morrem.
“Mortos não contam histórias”, acho que concordo
com essa frase. Não acredito que exista vida depois da morte ou que irei a um lugar melhor. Acredito que a
vida seja finita, não há nada depois. Então, pra resumir, a vida não tem
propósito e todos os seres vivos terminam mortos. “Devemos encarar nossos medos
de frente.” Fora o pleonasmo de “encarar de frente”, esse ditado popular pode
ser aplicado nessa situação também. Devemos encarar a morte de frente, certo? Por
que adiar o inevitável? Afinal, “por que deixar para depois o que pode ser
feito antes?”.
Pode parecer uma linha de pensamento fraca quando
usamos as definições de “utilidade” para explicar o sentido da vida. No caso,
se a vida é limitada pelo tempo, o mais racional é que se viva o máximo
possível para aumentar a satisfação (utilidade). Nessa linha de pensamento,
interromper a vida, é interromper a possibilidade de satisfação futura, que faz
sentido. Entretanto, seria muito difícil de imaginar que existam pessoas que
não sentem satisfação na própria vida? Digo mais, será difícil pensar que
existam pessoas que, ao invés de somar satisfações, somam insatisfações e
ansiedade que, na verdade, crescem com o tempo, ao invés de diminuir? No caso
dessas pessoas, a vida é uma desutilidade, uma insatisfação. “A vida não é um
mar de rosas”, até porque apenas se tornam mar quando se acumulam no chão
(mortas).
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