terça-feira, 2 de julho de 2013

Implacável

Implacavelmente o tempo nos alcança, e antigas expressões que nada significavam passam a ser o compasso e a cadência de nossas existências.
A cada dia damos mais um passo para a linha de frente, seja com alegria, volúpia, indiferença ou temor.
Quando criança perguntava à minha avó e minhas tias Terezinas, Adelinas, Christinas, Benjaminas, e tantas outras matriarcas guerreiras e com gênios implacáveis, por qual razão as linhas no canto de suas bocas eram caídas. Um ricto descendente que não fazia sentido para mim.
A resposta variava: tristeza, sofrimento, choro, perda, amargura, arrependimento. Enfim, decepções da vida que deixaram suas marcas, gravando na pele como o buril na chapa para imprimir uma gravura.
Elas tiveram suas alegrias, mas parece que as tristezas marcam com maior profundidade e inclemência.
As melhores eram aquelas que tinham brilho nos olhos, apetite pela vida, alegria, esperança renovada por nada mais que uma xícara de chá ou um bombocado que tivesse sido feito com gosto.
Qual foi meu espanto ao ver o canto dos meus lábios com o mesmo ricto? Não sei...
Será que meus olhos ainda têm o brilho? Qual era a idade delas? Para onde foram todos os sonhos e as esperanças?
Simplesmente o tempo passou e eu também tive de tudo a minha dose. Continuo sem saber o que está por vir. Só sei que a cada dia estou mais próxima da linha de frente nesta batalha que se desenrola eternamente no Universo.
Vejo hoje estrelas que já não existem e ignoro aquelas que já nasceram mas ainda estão tão distante que nem posso imaginar a cor de sua luz.
Diante de tal dança, qual a importância desse ricto? Na verdade, qual a importância de qualquer coisa ou ser?
Mas, não quero apenas uma xícara de chá ou um bombocado.
Sou implacável. Quero mais. Quero ressurgir de minhas próprias cinzas, construir mais vida, vibração e estradas.
Preciso percorrer caminhos, encontrar motivos, desbravar dificuldades e conquistar o direito de dizer que vivi.
Não vou deixar marcas, nem preciso disso. Apenas ser implacável e não deixar que o tempo destrua o brilho nos meus olhos.


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