sexta-feira, 5 de julho de 2013

Pantagruel

Quanto apetite! Jamais será saciado.
Você pensou em comida?
Não. Não é esse o apetite do meu Pantagruel.
É conhecimento. Tudo e nada o interessam.
Uma voragem que absorve cada gota que passa a sua frente, e depois a carcaça vazia da fonte é descartada, quase com indiferença infantil.
Mas esta fera não se satisfaz com qualquer coisa. Seu gosto é refinado e seletivo. Portanto o descarte é desumano, por vezes basta uma prova da essência para que o todo seja rejeitado.
Conhecimento em profundidade e  também em amplitude, diâmetro, por menores que sejam os detalhes e as sutilezas que passariam despercebidas a qualquer um. Não deste mestre em esmiuçar cada sentido e facetas da informação e do conhecimento.
Mesmo como leigo suas perguntas são contundentes. Um examinador nato.
Mas, como então esse criador e criatura consegue conceber uma obra derivativa? Tudo que o rodeia faz parte do todo e o todo perde o sentido por não ser obra sua originalmente.
Pena e castigo, a eterna ânsia por criar algo novo.
Então a alucinação o transmuta em fera enjaulada. Seu conhecimento ao contrário de ser libertador, torna-se sua prisão.
Competir consigo mesmo é perder sempre. Não há como apenas um lado ganhar. Maniqueísta?  Sim e não.
Tantos o vêm como inteligente e culto. Outros como distraído, de tão concentrado em seus pensamentos o mundo lhe passa como que alheio, apenas ingenuamente curioso.
Há os que enxergam fracasso em tanto conhecimento desperdiçado, posto que não concretizado em uma obra palpável.
Mas os poucos que de fato conseguem compreende-lo vêm a beleza desse fenômeno irreal e sublime que coloca o conhecimento das forças da natureza, da criação humana e do divino num patamar inimaginável.. Conhecimento intangível aos seus sentidos e anseios.
Nunca nada será suficiente, nem mesmo a vida eterna lhe daria tempo para aprender tudo com a perfeição que almeja.
Benditos os ignorantes, pois a eles é concedida a felicidade.
Você pensa que o Pantagruel é uma fera terrível, desumana, fria, calculista e destruidora? Não, muito pelo contrário.
Pantagruel enxerga beleza onde nada vemos, vê doçura onde outros vêm maldade, chora apenas ao pensar nos filhos. A lua, o formato de um nautilus, a cor de uma gema, o sabor do novo ou da lembrança.
Sua palavra de ordem é a generosidade, dividir o seu saber, ensinar a quem se interessa, apoiar, entusiasmar, consolar, sem jamais pedir qualquer coisa em troca, nem mesmo conhecimento, seu alimento primal.
Pantagruel é visceral.

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