sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Apenas o que vier

Levianamente percebemos que já é tarde.
Mas isso é irrelevante. Cada um chega ou parte em sua hora, no meio o que vier...
Sem pontes, sem laços, sem amarras, sem lágrimas, sem gritos, sem agonia, sem perceber.
A toa nos preocupamos com as sutilezas do querer e do poder, mas no meio apenas o que vier...
Visceral, tempestuoso, acre, suado, profundo, desmedido, arrebatador.
Desesperados indagamos como chegamos até tal ponto, mas no meio o que vier..
Nada de escolhas, nada de escoltas, nada de planos, nada de vícios, nada a sustentar.
A conta chega de que sem nada, com destemperos ou negações haverá o que tiver que ser.
O inferno não é o outro, nós mesmos o construímos a cada dia, para fazer o drama e viver no meio o que vier.
Tudo e nada ao mesmo tempo. Tudo o que não planejei deu certo, mas por outro lado, apenas o que vier.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Gotas

Toda uma vida pode estar contida em uma gota.
Uma gota de lágrima pode destilar toda a amargura de um coração.
Do sangue uma gota basta para saber sua descendência.
Na alegria uma gota a mais de esperança passa despercebida.
Em se tratando de tristeza basta uma gota para transbordar o choro.
Uma gota, tão somente uma gota de veneno para matar uma alma.
Na adoção uma gota de carinho vale mais que o abandono a que foi submetido o ser.
Saudade, uma gota a cada dia, até o final dos dias...
Gotas que curam, gotas que matam, gotas que doem, gotas que calam, gotas que consolam.
Lindas gotas de tinta transformando a aspereza do real.
"...É a gota que falta para o desfecho da festa..."
Gotas virtuais e reais. Doses certas para cada situação.
Gotas de perigo e risco para a emoção explodir em adrenalina pura, gotas de coragem, gotas de imaginação, gotas de transparência reluzente e textura fria.
Crença vendida em gotas para os carentes, sabores servido em gotas para transformar o paladar, prazeres entregue em gotas para alimentar o desejo. Sabedoria adquirida gota a gota, como um fino fio inquebrantável e instável, buscando sempre a compreensão do todo. Mas o todo continua na gota...
Nada mais complexo que uma simples gota.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Inverno após inverno

Conforme o inverno avança,
as sombras em meu coração aumentam.
Sinto-me lento,
sem qualquer movimento,
quase morto,
enquanto os termômetros baixam,
Quase não há mais esperança.

Inverno após inverno as sombras chegam,
e eu fico agachado, com frio.
E enquanto os anos passam,
fico mais tolo e, sem qualquer razão,
finjo aos outros que rio.

Queria

Texto de uma pessoa que amo muito, enviado após ler este Blog.

Queria tanto tantas coisas quase tudo.
Queria não querer nada.
Queria poder tudo.
Queria que Deus existisse.
Queria que houvesse justiça.
Queria que na vida, assim como na física, tudo tendesse ao equilíbrio.
Queria que o equilíbrio não fosse chato.
Queria não ser chato.
Queria mudar o tutano para não querer o que quero, mas queria que o que quererei não seja constante.
Queria ser diferente sem ser igual.
Queria que fosse possível ser sempre diferente, sabendo que, mesmo mudando, seremos sempre iguais.
Queria buscar sempre a liberdade.
Queria que essa busca não fosse uma prisão em si mesma.
Queria que o maldito Sartre não tivesse existido.
Queria ter conseguido.
Queria ter-lhe feito enxergar.
Queria ter-lhe feito se conhecer e se ver.
Queria lhe dar esperança.
Queria mostrar como pode ser bonita quando quer.
Queria que você quisesse.
Queria o que você quisesse. 

Quero tudo de bom para nós!!!

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Tristeza

Tristeza é um poço sem fundo. Quanto mais você alimenta mais ela pede.
Sempre com o bico aberto, aguardando novos sonhos e esperanças, motivações e realizações, amores e amizades, tudo que for não volta.
Caminho sem fim, cansaço sem repouso, vigília sem sono. Eterno despertar numa madrugada fria e inóspita.
Tudo é pouco, nada basta.
O repleto do feliz é o vazio que corrói as entranhas da alma do eterno descontente.
Mas quantas desilusões são necessárias para que uma pessoa se torne infeliz?
A pessoa pode ter se sentido infeliz durante uma vida, passado longos anos acreditando ser feliz, e um dia acordar infeliz novamente.
Aquele sentimento conhecido, que parece não ter segredos e que se conforta tão bem em seu íntimo. É como um velho amigo que volta para reivindicar o seu lugar. O caracol que por milagre retorna a sua concha, vestindo a como uma roupa velha, gasta e adequada.
Esse lugar já não mais lhe pertence, mas mesmo assim, como foi possível haver espantado a felicidade e se alojado com unhas, garras e dentes de forma tão profunda?
Que direito lhe foi dado para de forma tão abrupta aniquilar os resquícios de esperança, os escombros de ilusão?
Nada, nem mesmo a morte é uma solução. A morte é o fim. O nada. O não sentir. O ápice o aniquilamento. Mas não a felicidade.
É estranhamente uma desconhecida essa felicidade. Superficial e móvel, qualquer abalo a leva. Ser feliz deve ser uma ciência para poucos. Há quem diga que a felicidade é para os ignorantes. Será?
Caso seja, trocaria todo o meu saber pela obtusidade, por um pouco de felicidade. Uma alegria vã. A passagem de um sorriso, uma leveza no peito e uma certeza de que tudo será melhor.
Mas não sou assim. Tratarei de carregar meu fardo tentando agarrar umas poucas alegrias que passem pelo caminho. E imaginar que a felicidade voltou, como se isso fosse possível.


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Perdas

Há dias em que não conseguimos nos conter dentro de nós mesmos. Porém há outros em que os limites da pele são imensos. Dentro dessas fronteiras ficamos perdidos sem saber para onde ir, o que fazer ou mesmo o que pensar.
Como a mudança dos ventos, pode ser inesperada essa transformação da marola em tsuname.
Perder-se, afogar-se e não enxergar vias. Apenas ilusões.
O concreto não existe, a matéria é insustentável, apenas longos tentáculos tateando o espaço vazio entre o ser e o externo.
Fogo sem chama nem calor, água quente vitrificada.
Um olhar vazio, nuvens sobre os sentidos.
Sonhos alheios passando diante do desfile das próprias idéias. O passado reivindicando seu preço.
O futuro..
Nada sei. Esperar o que, quando tudo já foi feito?
Os sinais sempre presente e nunca vistos.
Precipício na boca do estomago a cada decisão. Será uma nova desilusão...
Injustificável fracasso da razão diante da caótica realidade.
Perdi, mais um já se foi.


domingo, 4 de agosto de 2013

Tao Te Ching



O ideograma chinês Tao, que literalmente traduzido significa caminho, exprime o conceito filosófico de Absoluto. Este conceito traz a idéia de origem, princípio e essência de todas as coisas. O Absoluto está além do tempo, do espaço e das linguagens. Sendo assim, não pode ser expresso, pois todas as expressões dependem de uma linguagem e de uma referência de tempo e espaço. Da mesma forma que não é possível usar uma régua para medir algo que está além das medidas, também não se pode utilizar a linguagem para descrever algo que está além da linguagem. Ou seja, não é possível usar conceitos ou ferramentas do mundo finito para definir algo que é o próprio infinito. Por isso, Lao Zi diz, no Tao Te Ching: “O caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante”.

Todas as linguagens – imagens, símbolos, palavras, idéias, pensamentos, sentimentos, emoções, etc. – são manifestações posteriores à criação do universo. Todas essas manifestações correspondem a formas limitadas, passageiras, temporárias e impermanentes. Os valores atribuídos às coisas mudam conforme o tempo e o destino. O que hoje é valorizado, considerado nobre, bonito e inovador, amanhã certamente não será mais. Do mesmo modo, um caminho feito numa determinada época, que está sendo seguido hoje, amanhã poderá não ser mais. Então, um caminho que possa ser expresso através da forma não é eterno, não é o Caminho constante.



foto: “O caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante. O nome que pode ser enunciado não é o Nome constante.” Tao Te Ching – Capítulo 1 – Lao Zi

Nenhuma palavra pode enquadrar a real natureza do Tao. “O nome que pode ser enunciado não é o Nome constante”, ou seja: o Absoluto está além das linguagens. Apesar disso, para que possamos compreender racionalmente a experiência de um mestre que vive na condição Absoluta de ser, torna-se necessário a utilização de nomes, de palavras. Em outra obra de sua autoria – o Tratado da Transparência e da Quietude Permanente – Lao Zi reforça essa idéia: “O Grande Caminho não tem nome, não tem emoção, não tem forma. Eu não sei seu nome, mas me esforçando, atribuo a ele um nome, chamando-o de Caminho”.

Um caminho só tem sentido e efeito reais quando existem três elementos atuando simultaneamente: o caminhante, o caminho e o ato de caminhar. Um caminho que existe, porém não é trilhado, não tem utilidade. Da mesma forma, caso exista o caminhante, mas não exista o caminho, o caminhante não saberá por onde caminhar. Finalmente, caso exista caminho e caminhante, ainda assim, dependemos de um terceiro elemento: o ato de caminhar. Ou seja, a condição Absoluta de ser só pode ser encontrada através de experiência pessoal; o Absoluto existe somente quando nos integramos a ele. Assim, você pode até compreender racionalmente que existe uma condição anterior ao céu e à terra, fonte criadora de todas as coisas; porém, caso você não a vivencie através da prática de um caminho, ela não existirá para você. Um caminho espiritual precisa ser praticado para que possa ocorrer a realização pessoal do praticante. Por isso, Lao Zi escolheu o termo “caminho” para representar o Absoluto.

Esse caminho é o Caminho do Infinito, ou seja, um caminho que nunca termina. Apesar de um taoísta nunca alcançar uma meta final, o próprio fato de estar trilhando um caminho que não termina significa que está vivendo o Caminho do Infinito, ou seja, significa que alcançou seu objetivo espiritual. No Taoísmo, você nunca considera que chegou no final da linha, que sua realização espiritual está terminada. Caso contrário, o caminho trilhado não seria o Caminho Constante.

Pensando a linguagem como palavras, esse Caminho – que está além dela – se compara com o silêncio, com a ausência de palavras. Considerando como linguagem os pensamentos, idéias, intenções, visualizações, formas e símbolos, o além da linguagem seria a própria quietude. Esta quietude não deve ser compreendida como ausência de todas as coisas, mas como algo anterior que permite que todas as coisas se manifestem de maneira natural e espontânea. Ou seja, o Caminho é o próprio silêncio, a quietude e o vazio que está por trás e que coexiste com todos os ruídos, manifestações e formas da existência.

Sendo assim, para que possamos encontrar o Caminho, precisamos encontrar o silêncio e a quietude interior, precisamos resgatar uma condição de transparência em relação ao ambiente externo. Não importa em que condição se encontre o ambiente – se é ruidoso, barulhento e agitado, ou um local tranqüilo – não importa onde você esteja ou o que ocorra, o silêncio e a quietude interior devem permanecer inalterados, independente de qualquer fator externo. Para alcançarmos esse verdadeiro silêncio e quietude interior, precisamos possuir um certo grau de tranqüilidade, precisamos estar nos sentindo bem. É impossível alguém encontrar um caminho interior de paz e tranqüilidade se estiver remoendo algum sentimento no seu interior.

No mesmo tratado, em capítulos posteriores, Lao Zi menciona muitas vezes a expressão “ausência de remorso”. Ausência de remorso é exatamente ter paz e tranqüilidade interior. Trata-se de reconhecer de maneira sincera e honesta que, dentro do possível, apesar de todas nossas limitações, é possível se aperfeiçoar e melhorar na vida cotidiana, sempre buscando realizar o melhor para si próprio e para as outras pessoas.

O taoísmo não acredita no discurso de algumas pessoas que afirmam: “Todos estão no meu interior; basta que eu faça por mim, para estar fazendo por todos”. Um caminho espiritual não é um caminho onde se busca benefício exclusivamente pessoal, onde o mundo deixa de ter importância. Por isso, a sinceridade interior é essencial para podermos alcançar o estágio de ausência de remorso. Sinceridade significa fidelidade, lealdade e honestidade, com si próprio e com os outros.

Então, para retornarmos ao Tao, ao Absoluto, temos que primeiro recuperar o nosso bem estar e a nossa paz interior. A partir desta condição, podemos encontrar o silêncio e a quietude interior, abandonando uma identidade egóica e trilhando um caminho que está além da forma e das linguagens. E, ao trilhar este caminho, integrando-o a nossa vida diária, vamos nos unindo ao Tao.